Banco central japonês pondera iniciar vendas de 83 triliões de ienes em ETFs já em janeiro, num processo que poderá durar várias décadas.
O Banco do Japão (BoJ) está a preparar-se para iniciar, já em janeiro, a venda gradual das suas enormes posições em fundos cotados (ETFs), num movimento que marca o início da reversão de uma das políticas monetárias mais extraordinárias da história moderna.
Atualmente, o banco central detém cerca de ¥83 biliões de ienes (aproximadamente 534 mil milhões de dólares) em ETFs, acumulados ao longo de mais de uma década de estímulos agressivos destinados a combater a deflação e sustentar os mercados financeiros. O plano passa por vender estes ativos de forma extremamente faseada, a um ritmo estimado de cerca de ¥330 mil milhões por ano, um processo que poderá estender-se por mais de um século para evitar choques nos mercados.
Porque é que o Banco do Japão está a fazer isto?
A decisão reflete uma mudança estrutural no enquadramento da política monetária japonesa. Com a inflação finalmente acima do zero de forma sustentada e os salários a mostrar sinais de crescimento, o BoJ procura:
Reduzir a sua intervenção direta na bolsa
Tornar o mercado mais “normal” e menos dependente do banco central
Diminuir riscos no seu próprio balanço
Ganhar margem para atuar no futuro, se for necessário
Impacto nos mercados:
No curto prazo, o impacto deverá ser limitado, precisamente devido ao ritmo extremamente lento das vendas. Ainda assim, o sinal é relevante, pois trata-se de um passo claro na direção da normalização monetária no Japão.
A médio e longo prazo, o mercado japonês poderá enfrentar maior volatilidade, sobretudo em períodos de menor liquidez, uma vez que o maior comprador estrutural de ações do país começa a retirar-se. Globalmente, esta decisão pode também influenciar fluxos internacionais de capital e o chamado yen carry trade, à medida que o Japão se afasta das políticas ultra-expansionistas que sustentaram liquidez mundial durante anos.

